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19/12/2014

Cidadão de bem... SQN




Se existe algo nesse mundo que me causa frio na espinha e embrulho no estômago é o cidadão de bem. O cidadão de bem vive sua vida tranquila, agitada ou pacata cercada do umbiguismo e de um abismo que ele perpetua.
O cidadão de bem ama sua família, mas é contra a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo.
O cidadão de bem faz piada violentas com mulheres trans* e travestis. Algumas vezes ele as ridiculariza e até fere a carne.
O cidadão de bem ama a vida, mas pra ele tá tudo bem 250 mil mulheres morrendo anualmente no Brasil em abortos clandestinos.
O cidadão de bem é machista em todos os aspectos cotidianos.
O cidadão de bem não se preocupa com politicas públicas e sociais que trabalhem a inclusão de pessoas em todos os espaços e pra ele bandido bom é bandido morto.
O cidadão de bem faz e ri de piadas racistas e tenta deslegitimar uma história que começa com um povo que foi arrastado de sua terra para ser escravo em outro lugar.
O cidadão de bem geralmente é cristão. Acredita no amor ao próximo, mas é intolerante com as demais religiões.
O cidadão de bem reclama do trânsito caótico da cidade, mas não abre mão do seu carro do ano pra ir na padaria comprar pão. Ele também passa por cima de leis de trânsito e não respeita veículos menores e pedestres.
O cidadão de bem é a favor da redução da maioridade penal, mas nunca viveu de perto a realidade de um sistema prisional falido.
O cidadão de bem é contra cotas e acredita que a dívida social do país vai ser resolvida na meritocracia.
O cidadão de bem quer saúde de qualidade, mas é favorável a cesáreas desnecessárias eletivas e considera loucura e irresponsabilidade uma mulher empoderada parir em casa.
O cidadão de bem é tão do bem que foi título de um jornal da Ku Klux Klan.
O cidadão de bem é moralista, mas não pratica metade de suas "morais e bons costumes".
O cidadão de bem é a contradição violenta. O robô que a construção doentia formou e acredita que isso tudo é normal.
O cidadão de bem é incapaz de repensar suas atitudes e seu título incoerente.
Ele é um ser lamentável e se de qualquer maneira for contestado, assustador.

Amor personalizado... Dá mais trabalho, mas é melhor pra saúde!

A gente precisa mudar o jeito com o qual nos relacionamos amorosa-sexualmente.

Antes de falar de não-monogamia, que é uma coisa super complicada, vamos falar antes, de melhorar a relação com nós mesmas, construir relações de confiança.
Abertas! Abertas no sentido mais claro da palavra. Abertas ao amor, à comunicação, à verdade, à sinceridades, à perdão, ao bom humor, à individualidade... Ao tesão... Às gostosuras... Essas coisas...
Sobretudo quando estamos numa sociedade machista, onde os homens todos, especialmente os héteros, são cobertos e recheados de privilégios... Onde as mulheres em suas mais amplas diversidades estão em lugares diferentes nessa desconstrução... 

Então antes, muito antes de questionar a monogamia, vamos desconstruir esse modelo fudido de relacionamento... É tudo muito amarrado, é cheio de expectativas, é cheio de mal entendidos, é cheio de teatro... Não vamos fazer isso com a experiência maravilhosa (e complicada) que é se relacionar intimamente com alguém (ou alguéns).

Vamos fazer personalizado... Vamos nos sentir contemplades, amades, desejades... Aí seja monogâmico ou não, mas seja feliz, leve, amistoso!


Alarguem as calças, afrouxem os cintos...

Hoje uma pessoa me disse que estou montando um personagem ao longo dos anos.

Não, minha irmã eu estou me desmontando mesmo. O meu projeto de vida é me parecer comigo mesma antes de me incumbirem de atuar um roteiro que estava pronto antes do meu nascimento. 


Eu tirei minha maquiagem, desci dos saltos, afrouxei os cintos, joguei fora o espartilho. 
Não tem nada me apertando, não tem nada consumindo o meu tempo desnecessariamente.

Tirei meu cabelo alisado, parei de riscar minha cara para esconder o formato das minhas narinas, deixei meus pelos nascerem. 


Cada dia eu pareço mais com a Monique de 7 anos de idade, suja de lama, os cabelos crespos revoltos, as unhas sem esmalte, os lábios sem batom, os pés descalços dentro de casa, sentada de pernas abertas, evitando usar calcinhas quando possível, sentando no chão, com o corpo e coração aberto. 

Eu era uma criança impetuosa, indisciplinada, falante, desinibida, acreditando que eu poderia ser qualquer coisa que eu quisesse. 


Eu tinha minha escrita, eu tinha minha voz e cantava, eu tinha meus pés e corria, eu tinha uma juba e eu não queria prender. Ninguém conseguia me conter, ninguém conseguia me pôr calada, ninguém conseguia diminuir minha raiva nem a minha alegria. 

Essa sou eu, essa é a coisa mais original sobre mim. Eu tinha asas, eu tinha pressa, eu tinha voz, vitalidade, curiosidade, uma mente aberta. 


O que eu não sou? Eu não sou o que me fizeram ser nos últimos 10 ou 15 anos, desde que me medicaram a primeira vez, desde que fizeram de mim um transtorno, um problema a ser resolvido, um rosto a ser escondido, um cabelo a ser contido, uma voz a ser calada.


Aí me maquiaram, me puseram num salto, me deram um controlador de humor, outro hormonal, fecharam as minhas pernas, patologizaram a minha estranheza. 

Eu resisti ,mas de repente encarnei parte do personagem. Mas o que eu sou de fato, o que tem de mais original em mim veio muito antes disso.

Eu tenho uma raiz que sou eu e estou recuperando as minhas asas. Porém o hábito de atuar na mesma encenação durante muito tempo me adoeceu, de repente eu achei que aquele personagem era eu. Mas nem que dure a vida inteira um dia eu vou me diminuir ao ponto de ser aquela criança, tão grande como ela. 


Eu fundida em mim mesma e tendo a minha essência como objetivo, principio e espelho, nada mais.

Alarguem as calças, afrouxem os cintos, abram os braços, saiam correndo, soltem os cabelos, tirem os esmalte das unhas, aumentem o som da sua voz, observe as formigas, enfie as mãos em tinta, os pés na lama, deitem no chão e vão encontrar as suas verdadeiras imagens no seus espelhos.

Por: 
Monique Hotentote 

Via: Gabi Machado.




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