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19/12/2014

Alarguem as calças, afrouxem os cintos...

Hoje uma pessoa me disse que estou montando um personagem ao longo dos anos.

Não, minha irmã eu estou me desmontando mesmo. O meu projeto de vida é me parecer comigo mesma antes de me incumbirem de atuar um roteiro que estava pronto antes do meu nascimento. 


Eu tirei minha maquiagem, desci dos saltos, afrouxei os cintos, joguei fora o espartilho. 
Não tem nada me apertando, não tem nada consumindo o meu tempo desnecessariamente.

Tirei meu cabelo alisado, parei de riscar minha cara para esconder o formato das minhas narinas, deixei meus pelos nascerem. 


Cada dia eu pareço mais com a Monique de 7 anos de idade, suja de lama, os cabelos crespos revoltos, as unhas sem esmalte, os lábios sem batom, os pés descalços dentro de casa, sentada de pernas abertas, evitando usar calcinhas quando possível, sentando no chão, com o corpo e coração aberto. 

Eu era uma criança impetuosa, indisciplinada, falante, desinibida, acreditando que eu poderia ser qualquer coisa que eu quisesse. 


Eu tinha minha escrita, eu tinha minha voz e cantava, eu tinha meus pés e corria, eu tinha uma juba e eu não queria prender. Ninguém conseguia me conter, ninguém conseguia me pôr calada, ninguém conseguia diminuir minha raiva nem a minha alegria. 

Essa sou eu, essa é a coisa mais original sobre mim. Eu tinha asas, eu tinha pressa, eu tinha voz, vitalidade, curiosidade, uma mente aberta. 


O que eu não sou? Eu não sou o que me fizeram ser nos últimos 10 ou 15 anos, desde que me medicaram a primeira vez, desde que fizeram de mim um transtorno, um problema a ser resolvido, um rosto a ser escondido, um cabelo a ser contido, uma voz a ser calada.


Aí me maquiaram, me puseram num salto, me deram um controlador de humor, outro hormonal, fecharam as minhas pernas, patologizaram a minha estranheza. 

Eu resisti ,mas de repente encarnei parte do personagem. Mas o que eu sou de fato, o que tem de mais original em mim veio muito antes disso.

Eu tenho uma raiz que sou eu e estou recuperando as minhas asas. Porém o hábito de atuar na mesma encenação durante muito tempo me adoeceu, de repente eu achei que aquele personagem era eu. Mas nem que dure a vida inteira um dia eu vou me diminuir ao ponto de ser aquela criança, tão grande como ela. 


Eu fundida em mim mesma e tendo a minha essência como objetivo, principio e espelho, nada mais.

Alarguem as calças, afrouxem os cintos, abram os braços, saiam correndo, soltem os cabelos, tirem os esmalte das unhas, aumentem o som da sua voz, observe as formigas, enfie as mãos em tinta, os pés na lama, deitem no chão e vão encontrar as suas verdadeiras imagens no seus espelhos.

Por: 
Monique Hotentote 

Via: Gabi Machado.




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