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27/03/2013

Eu sou feminista? Será?

“Conversation started April 18, 2012
 
Paty Sampaio Carvalho


Com certeza. Podíamos marcar uma cervejinha e começar a conversar, de repente surge o grupo.  Ah, e se vc diz que é verde com relação ao feminismo, pode ter certeza de que não. Tu é uma feminista nata, mulé!  Só o fato de vc pensar em relacionamento aberto e ser contra a monogamia mostra isso. Porque essa 'monogamia de fachada' é um dos benefícios da cultura machista para os seres do sexo masculino, tá ligada?”

Então quer dizer que eu sou feminista? C-H-O-C-A-D-A!

Tava lá eu, vivendo os dias da minha nada mole vida, questionando os padrões de relacionamento (a fim de encontrar mais pessoas que compartilhassem dessas ideias) e me revelam essa verdade, agora completamente aceita: EU SOU FEMINISTA.


E quando me dei conta do que feminismo significa percebi: SEMPRE FUI FEMINSTA!

Filha de um casal bastante padrão, irmã de um menino quase da minha idade.


Ao crescer numa casa onde, a mãe cuida das crianças e da casa e o pai trabalha fora, fui vendo que o tratamento não era igual. (ainda hoje não é)

A menina (eu) deveria lavar os pratos, ajudar a mãe e aprender a tomar conta de uma casa, o menino estava lá fora jogando futebol, bola de gude e afins.

Eu diria até que o feminismo em mim nasceu da grande indisposição para os serviços domésticos. (Hehehe)


Mas o tempo passou, os questionamentos demoraram a acontecer na minha cabeça.
Eu ia vivendo minha vida da maneira que eu podia levar com a grande preocupação, acima de tudo, de trabalhar. Depois me veio a vontade de estudar, porque eu precisava de um emprego melhor. Junto com a maturidade que a idade e as vivências trazem, os questionamentos vieram também.

O grande boom do feminismo aconteceu por causa do fim do meu namoro (namorei por 10 anos). A princípio a vida fica louca quando algo assim intenso acontece, mas ao ir me adaptando a nova realidade, preocupações que a minha família, até então, não tinha comigo apareceram. E eu, no alto dos meus 26 anos, passei a ser severamente interrogada sobre os meus movimentos, a ser questionada sobre o meu futuro (agora incerto, já que o esperado era que eu me casasse e tal e coisa).

Aí comecei a viver privações que até então eu não tinha, e perceber o quanto era perigoso sair sozinha e todas essas coisas me incomodaram demais.

Mas a vida continuava basicamente igual, eu tinha os mesmos amigos e amigas e adicionei mais alguns (é, eu faço amizades) e as conversas, o facebook, o ciberativismo e tantos fatores me capturaram. Enfim eu estava ciente: TEM ALGO MUITO ERRADO NISSO TUDO.



“e até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu sou feminista”




Eu poderia escrever muito mais sobre isso, e vou. Mas nessa primeira apresentação basta dizer que o feminismo me trouxe muita coisa boa, mas também é muito difícil.

A realidade te choca, as lágrimas não raro escorrem pelo seu rosto. Importante ressaltar que algumas são de alegria também.




Tem muita gente trabalhando por um mundo melhor, trabalhar pelo feminismo me fez conhecer um monte de gente que luta e faz parte dessa corrente do bem e minhas caras e meus caros EU TOU NESSA!

A nossa luta é todo dia, mas saibam que essas batalhas diárias são cheias de sorrisos e gargalhadas, diálogo, discussões e a gente até pega umas brigas, mas muitas vezes é só pra aproveitar o calor do momento. A gente é da paz e do amor (com calor, por favor).

Falando por essas Jovens Feministas e pela grande maioria das feministas atuantes que eu conheci nesse 1º ano de ativismo, é uma luta por igualdade. Haverá más interpretações de todos os lados, mas no fim das contas a gente quer respeito... E olhem bem de cima essa imagem, amplie ao máximo o quadro e quando eu falo de respeito é sobre o ser humano que eu sou e não o fato de eu ser mulher e andar ou não sem roupa. (esse trecho é só pra ver se eu elimino um ou dois comentários a respeito de mostrar os peitos, porque véi, ZZZZzzzzz)

ps:


"de repente surge o grupo" que Paty falou lá naquela nossa primeira conversa, virou mais que um grupo... nóis se amamo de mói e tamo juntxs nessa vida e não deu jeito da gente se largar!


Somos Vadi@s on Fun e vocês vão ouvir falar de nós ;)





21/03/2013

Quando a ficha caiu



Fiquei um tempo pensando por onde começar essa história e vi que pra onde meu pensamento corresse, tudo começava com a minha mãe. Ela se casou com 19 anos, com um homem de 31 anos. Ambos pernambucanos, mas ele já tinha ido ganhar a vida em São Paulo. E tinha ganho alguma coisa até aquele momento. Ele tinha estudado até a quarta série e era comerciante. Ela cursava o 2° ano do magistério, mas teve que se mudar pra São Paulo, com a promessa de continuar os estudos por lá. Nunca terminou. Eu nasci 9 meses depois do casamento e fui filha única por 3 anos e 8 meses. Aí nasceu minha irmã. Três mulheres e um homem, mas enquanto ele esteve presente, a palavra dele foi soberana.

Eu tive uma infância muito boa, extremamente privilegiada, não tenho do que me queixar. Meu pai, por muitos anos foi meu herói. Hoje eu sei que ele era muito machista e que tinha vários defeitos, mas apesar disso ele tentava ser minimamente justo. Conversava muito comigo, tentava me explicar as coisas que eu não entendia do ponto de vista dele. De todas as nossas conversas sobre homens e mulheres, a que mais me marcou é esta que relato abaixo.  

Meu primo mais velho que eu, quase uns 10 anos, tinha uma namorada que todas nós - eu, minha irmã, minha prima - gostávamos muito. Aí ele se interessou por uma outra moça que morava na minha rua. Começou a fazer várias visitas ao meu pai dia de semana. Um dia fui no portão falar com meu pai e vi que meu primo estava lá, mas não na nossa calçada e sim na calçada da vizinha. Fiquei tentanto entender o que ele fazia lá e quando entendi disse logo que ia contar tudo pra namorada dele. Meu pai entrou comigo e tentou me explicar que o namoro era diferente para os meninos e para as meninas. Que os meninos tinham "necessidades" diferentes e precisavam respeitar as namoradas e por isso eles arrumavam algumas outras meninas pra sair. Eu não tinha noção da quantidade de machismo e mitos contido nisso tudo, mas ainda assim não concordei, não entendia porque seria diferente pro homem e pra mulher, achei que não fazia nenhum sentido. 

Eu devia ter uns 12 anos na época. Continuamos o debate e em um dado momento eu disse: então se o problema é antes de casar, depois de casar não tem desculpa, certo? O homem já vai ter todas as suas "necessidades" preenchidas e não vai precisar procurar nenhuma mulher fora de casa. Eu não lembro o que ele me respondeu, mas lembro que com um olhar triste me perguntou: se você descobrisse que eu traio a sua mãe você iria me perdoar? E eu disse que não, nem em mil anos eu voltaria a falar com ele. Mais ou menos um ano depois meu pai sofreu um acidente de moto e morreu na hora. Alguns meses depois eu soube que ele tinha uma amante, que estava inclusive pensando em se separar para morar com ela. Um amigo íntimo contou pra minha mãe, um tempo depois, que ele temia muito mais que eu descobrisse do que ela. O machismo não faz mal só para as mulheres. Alguns meses depois da morte dele eu descobri e não consegui sentir raiva nenhuma, não me coloquei no lugar da minha mãe, não pensei como mulher. Naquele momento eu era apenas um filha que gostaria de ter o pai de volta de qualquer jeito.

Eu conto esta história para ilustrar que eu sempre fui feminista e não sabia. Eu não tenho a menor lembrança de ter aprendido o que era feminismo na escola, em alguma aula de história ou outro momento qualquer. Com a morte do meu pai minha mãe ficou sem norte, ela não sabia administrar as finanças, ela não tinha formação pra procurar um emprego. A única coisa que eu pensava nessa época é que não queria ser como ela, não queria casar tão cedo, nunca iria depender de homem nenhum, tinha orgulho de não saber cozinhar, achava as princesas e as mocinhas de novela umas abestalhadas por mudarem completamente as suas vidas por causa de um homem. Não estou aqui dizendo que tudo isso é feminismo. Eu sempre fui feminista, mas também tinha - e se duvidar ainda tenho escondida - uma parcela de machismo em mim, pacote da minha criação, além de uma pitada de revolta juvenil daquela época :)

Ai fui crescendo, passei no vestibular, cursei a universidade, entrei pra faculdade de computação, local predominantemente masculino, comecei a ganhar meu próprio dinheiro, mudei de estado, fui fazer mestrado,  trabalhar de novo e comecei a me deparar com os mil papéis que eu era incentivada, pra dizer o mínimo, a assumir. E em alguns momentos questionei porque danado aquelas mulheres inventaram de queimar sutiã na rua, era tão mais fácil quando a pessoa só precisava ser dona de casa, agora tinhamos que ser mil em uma?!?!?! 

Acho importante admitir isso porque este pensamento demonstrava um total desconhecimento meu do que é o movimento feminista. Por quantas vezes eu não me via comentando que o feminismo era o contrário do machismo? Que o bom era direitos iguais??!?!  Parece piada pensar nisso hoje, mas eu já pensei assim e não faz nem muito tempo. O pior é que eu nunca parei pra questionar nada, nem ninguém chegou pra mim e disse: feminismo é isso, machismo é aquilo. Foi simplesmente o resultado de anos e anos de mensagens subliminares, de quem quer enfraquecer o movimento, de quem quer continuar vendo as mulheres em posição inferior, de quem quer continuar mantendo um modelo de poder e privilégios.

Então, apesar do tema do post ser: como me tornei feminista, pra mim deveria ser, quando tomei consciência de que sou feminista. Até porque, pra ser sincera, tem como ser mulher e não ser? :) Isso aconteceu ano passado, quando conheci a vadia Patrícia Sampaio, que não só é feminista como é ativista. E esta parte do ativismo é muito importante, pois foi por ela se colocar no mundo - virtual e real - que eu conheci os pensamentos dela. E pude perceber ao ler os posts no facebook sobre o assunto que eu concordava com tudo aquilo. Então pensei: perae, eu concordo e faço várias destas coisas, então eu sou feminista?? :) :) :)  Eu agradeço muito a ela por ter me ajudado nesse despertar. Hoje percebo o quanto o movimento ainda é importante, ainda é necessário e mesmo com minha vida de privilégios, ainda não estou imune a tudo que o machismo proporciona no mundo, ainda não estou imune a sofrer violência, a ser estuprada e ser acusada de ter causado este esturpo, ainda estou sujeita a ganhar menos que um homem, mesmo quando posso estar exercendo um trabalho melhor, ainda tenho minha liberdade de ir e vir extremamente limitada pelo simples fato de ser mulher.

Enquanto tudo isto existir eu vou dizer com muito orgulho: sou feminista sim! E vou fazer a minha parte, vou me colocar, vou escrever neste blog e em todos os outros canais possíveis, vou sair na rua na Marcha das Vadias, vou protestar pelo fim da impunidade nos crimes de violência contra a mulher, vou boicotar marcas e produtos que estimulem a cultura do estupro, enfim, tudo que me for possível fazer para contribuir com a construção de uma sociedade onde todos seremos vistos como seres humanos!





14/03/2013

Eu devaneiando meu início

Pra contar a minha história de como me tornei uma jovem feminista, preciso contar outra história, que eu acho, hoje, que tem tudo a ver com o que sou.


Minha avó paterna cresceu em uma família conservadora, católica, branca de classe média, com uma mãe racista e um pai alcoólatra que agredia a ela, à irmã e à mãe. Resolveu aos 17 anos, em plena década de 50, ir embora de casa. Engravidou aos 21, o pai de seu filho renunciou à criança e às responsabilidades. Mesmo assim, resolveu ter seu filho e continuar a luta sozinha, contando com o apoio dxs amigxs.


É nesse ponto que começa a minha história.


Foi ouvindo tudo isso e um pouco mais que minha personalidade foi sendo construída. Era a vovó que me deixava empinar pipa e jogar futebol, mas também fazia os móveis da minha casa de bonecas. E assim foram começando meus questionamentos. Comecei a contestar o porquê de lavar a louça, enquanto meu tio (um adolescente, um pouco mais velho) estava brincando na rua?


Na adolescência aprendi com xs amigxs gays que poderia viver minha sexualidade da forma que eu quisesse, desde que fosse escondida, e eu continuava a perguntar o porquê. E as respostas eram as mesmas. "Nós somos meninas, a sociedade não perdoa", dizia uma grande amiga lésbica.


Mas foi a exatamente quatro anos que minha transformação social e política começou. Eu não entendia o porquê das mulheres que transam porque querem serem hostilizadas; não entendia o porquê dos homens não fazerem os serviços domésticos ou porque minha melhor amiga, na época, tinha que se arriscar em um aborto clandestino.


Aquilo era tão surreal, tão vexatório, que eu me sentia em uma bolha, onde só eu pensava de maneira diferente.


Então veio o click. Fiquei grávida e ao saber o sexo biológico dx bebê, afirmou que era uma menina. Ficamos todXs felizes. Quer dizer, meu ex-companheiro ainda tinha esperanças de que fosse um menino. Por que será?


Enquanto eu comemorava (sim, eu fiquei radiante em saber que teria uma menina, que quebraríamos um ciclo de submissão da família, porque ela veio pra me mudar e pra mudar todo o contexto familiar que tínhamos) a minha bisavó de 80 anos fala: - "Bichinha, sofrerá tanto por ser mulher!"


Na hora retruquei. Fiquei chateadíssima por ela ter falado aquilo, disse que isso existia na época dela. Meu ledo engano. Eu tentando tapar o sol com o machismo que ainda existia em mim.


A partir daquele momento, todos os dias, eu comecei a perceber as notícias sobre agressão contra o gênero feminino, físicas e psicológicas.


Foi então que comecei a pesquisar, ler, abrir os olhos e entender que o buraco é bem mais lá embaixo, que é tudo tão enraizado que não nos damos conta do quanto temos que mudar. Eu achava que votar, trabalhar e escolher com quem casar já era mais que suficiente, outro engano.


No começo foi bem difícil poder me entender feminista, pra mim, para minha família, para xs amigxs, para a sociedade.



Hoje falo, externo o que necessito dizer, grito, saio em marchas, faço ativismo real e de sofá. Uso toda minha indignação para lutar para que minha filha, eu e todas as mulheres que conheço e não conheço possam ter uma vida digna e livre de qualquer violência.



O feminismo é um essencial fortalecedor de empoderamento. É de fato se sentir livre para ser... humano.


Pode parecer testemunho religioso (tsc tsc), mas é dessa forma que me sinto. Aprendi que não tenho nenhum direito sobre o corpo dXs outrXs. Que mulheres não sofrem violências porque querem e que não são vadias por serem livres sexualmente, mas ganham menos por ser mulher.



Provavelmente, diante de toda uma educação machista, devo ainda ter algum resquício disso, mas luto todos os dias para que isso não faça parte de mim. 

 

 



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