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14/03/2013

Eu devaneiando meu início

Pra contar a minha história de como me tornei uma jovem feminista, preciso contar outra história, que eu acho, hoje, que tem tudo a ver com o que sou.


Minha avó paterna cresceu em uma família conservadora, católica, branca de classe média, com uma mãe racista e um pai alcoólatra que agredia a ela, à irmã e à mãe. Resolveu aos 17 anos, em plena década de 50, ir embora de casa. Engravidou aos 21, o pai de seu filho renunciou à criança e às responsabilidades. Mesmo assim, resolveu ter seu filho e continuar a luta sozinha, contando com o apoio dxs amigxs.


É nesse ponto que começa a minha história.


Foi ouvindo tudo isso e um pouco mais que minha personalidade foi sendo construída. Era a vovó que me deixava empinar pipa e jogar futebol, mas também fazia os móveis da minha casa de bonecas. E assim foram começando meus questionamentos. Comecei a contestar o porquê de lavar a louça, enquanto meu tio (um adolescente, um pouco mais velho) estava brincando na rua?


Na adolescência aprendi com xs amigxs gays que poderia viver minha sexualidade da forma que eu quisesse, desde que fosse escondida, e eu continuava a perguntar o porquê. E as respostas eram as mesmas. "Nós somos meninas, a sociedade não perdoa", dizia uma grande amiga lésbica.


Mas foi a exatamente quatro anos que minha transformação social e política começou. Eu não entendia o porquê das mulheres que transam porque querem serem hostilizadas; não entendia o porquê dos homens não fazerem os serviços domésticos ou porque minha melhor amiga, na época, tinha que se arriscar em um aborto clandestino.


Aquilo era tão surreal, tão vexatório, que eu me sentia em uma bolha, onde só eu pensava de maneira diferente.


Então veio o click. Fiquei grávida e ao saber o sexo biológico dx bebê, afirmou que era uma menina. Ficamos todXs felizes. Quer dizer, meu ex-companheiro ainda tinha esperanças de que fosse um menino. Por que será?


Enquanto eu comemorava (sim, eu fiquei radiante em saber que teria uma menina, que quebraríamos um ciclo de submissão da família, porque ela veio pra me mudar e pra mudar todo o contexto familiar que tínhamos) a minha bisavó de 80 anos fala: - "Bichinha, sofrerá tanto por ser mulher!"


Na hora retruquei. Fiquei chateadíssima por ela ter falado aquilo, disse que isso existia na época dela. Meu ledo engano. Eu tentando tapar o sol com o machismo que ainda existia em mim.


A partir daquele momento, todos os dias, eu comecei a perceber as notícias sobre agressão contra o gênero feminino, físicas e psicológicas.


Foi então que comecei a pesquisar, ler, abrir os olhos e entender que o buraco é bem mais lá embaixo, que é tudo tão enraizado que não nos damos conta do quanto temos que mudar. Eu achava que votar, trabalhar e escolher com quem casar já era mais que suficiente, outro engano.


No começo foi bem difícil poder me entender feminista, pra mim, para minha família, para xs amigxs, para a sociedade.



Hoje falo, externo o que necessito dizer, grito, saio em marchas, faço ativismo real e de sofá. Uso toda minha indignação para lutar para que minha filha, eu e todas as mulheres que conheço e não conheço possam ter uma vida digna e livre de qualquer violência.



O feminismo é um essencial fortalecedor de empoderamento. É de fato se sentir livre para ser... humano.


Pode parecer testemunho religioso (tsc tsc), mas é dessa forma que me sinto. Aprendi que não tenho nenhum direito sobre o corpo dXs outrXs. Que mulheres não sofrem violências porque querem e que não são vadias por serem livres sexualmente, mas ganham menos por ser mulher.



Provavelmente, diante de toda uma educação machista, devo ainda ter algum resquício disso, mas luto todos os dias para que isso não faça parte de mim. 

 

 



4 comentários:

  1. ótima iniciativa :) proponho uma coisa, um espacinho de perguntas e respostas ! :D não sei como isso poderia funcionar num blog :/

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  2. Luis,pode ser por aqui mesmo,pelos comentários.
    Ou você pode enviar para o email devaneiosdeumajovemfeminista@gmail.com

    Aguardamos tuas perguntas e obrigada pela visita.

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  3. "É de fato se sentir livre para ser... humano."
    Amei!
    Parabéns!

    ResponderExcluir

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